domingo, 10 de abril de 2011

Na estreia da turnê 360º do U2 em SP, Bono cita tragédia no Rio

 

Ao cantar 'Moment of surrender', vocalista falou de massacre em escola.
Banda irlandesa tocou por duas horas no Morumbi neste sábado (9).

Gustavo Miller Do G1, em São Paulo
 
O clima era de “balada”, como adiantou Bono em engraçado português às 90 mil pessoas que compareceram ao Morumbi na noite deste sábado (9) para o primeiro dos três shows do U2 no Brasil. Mas, no final, a alegria deu lugar à tristeza: na última canção, “Moment of surrender”, o líder da banda de Dublin fez um discurso em homenagem às 12 crianças vítimas do massacre na Escola Municipal Tasso de Silveira, em Realengo, no Rio.
“Liguem seus isqueiros, seus celulares, vamos homenagear essas crianças e suas famílias”, pediu o cantor, enquanto o nome da uma dúzia de vítimas aparecia no telão 360º. Um momento triste e bonito, que marcou a segunda parte (melancólica) do bis. O oposto da energia que o grupo levou ao palco a partir das 21h40.
Bono e The Edge se apresentam no Morumbi (Foto: Flavio Moraes/G1)Bono e The Edge se apresentam no Morumbi. (Foto: Flavio Moraes/G1)
Em exatas duas horas de apresentação, o grupo justificou porque a atual turnê é a mais lucrativa da história: com uma estrutura de palco jamais vista, o U2 cumpre o que é, de fato, “o maior espetáculo da Terra”.
A “garra” de quatro dedos que serve para sustentar as caixas de som e de luz é tão grande (50m) que pode ser vista fora do estádio. Já o telão que se contrai e expande proporciona uma experiência e conforto de ser ver um show em arena jamais visto.
Renata e Thiago comemoram estrutura do palco que privilegia visão até de cadeirantes. (Foto: Gustavo Miller / G1)Renata e Thiago comemoram estrutura do palco
que privilegia visão até de cadeirantes.
(Foto: Gustavo Miller / G1)
“É muito bacana você poder ver um show independente de onde estiver ou de seu tamanho”, afirmou a assistente administrativa Renata Luna,de 30 anos. Cadeirante, ela pode ver a apresentação em uma área reservada, ao lado do amigo Thiago Motta, 26, também cadeirante. “É sensacional, só digo isso”, resumiu ele, olhando para o alto.
Trem das 21h40
Logo após o show do Muse, que terminou às 20h40, o Morumbi já estava lotado. Casais, muitos grupos de amigos e de excursões faziam pose em frente à “garra” assim que desciam da rampa em direção ao estádio. Quem era de fora da cidade não fazia questão de esconder a procedência, caso das uruguaias Natalia Pumar (35 anos), Gabriela Vartanian (34) e Cecília Camacho (40).
“Crescemos com o U2, as músicas deles acompanharam nossas alegrias e tristezas. Principalmente nos namoros”, brincou Gabriela, enquanto exibia uma camiseta da seleção celeste. Ela, assim como o estádio, passou os 60 minutos de intervalo da apresentação sem tirar os olhos do telão, que exibia um relógio que fazia uma falsa contagem regressiva para o começo do espetáculo.
Trio de amigas veio do Uruguai para assistir ao show. (Foto: Gustavo Miller / G1)Trio de amigas veio do Uruguai para assistir ao
show. (Foto: Gustavo Miller / G1)
Às 21h30 o mesmo relógio começou a se desintegrar e o sistema de som da “garra” colocou “Trem das onze” (Adoniran Barbosa) para tocar. Minutos depois ecoou “Space oddity” (David Bowie), que serviu para o telão ligar de vez e trazer a ilustração de uma nave especial. Pelas janelas dele se espia o grupo chegando ao palco, um ritual voyeur que acontece desde a turnê Zoo TV (1992-1993).
Assim como nas três apresentações argentinas, o U2 abriu com “Even better than the real thing”. A escolha não foi das melhores, visto que boa parte do público pulava mais pela empolgação de ver a banda ao vivo do que por gostar da música. Esses dois fatores se juntaram, porém, quando The Edge disparou o riff de “I will follow”.O som, até então abafado, só melhorou a partir de “Magnificent”.
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Até aqui a “garra” se mostra tímida. É preciso “Get on your boots” para ela se revelar. As pontes que ligam o palco à passarela circular se mexem e o guitarrista e o baixista caminham pelo público, uma forma de agradar quem está nas laterais e até mesmo atrás deles.
Aqui vale um parêntese: a “garra” e o telão foram teoricamente desenhados para que qualquer pessoa, de qualquer ponto do estádio, tenha uma visão privilegiada. Isso não é lá muito verdade... Quem pagou para ficar no setor amarelo, atrás do palco, poderá de fato ver o show, mas praticamente só pelo telão 360º e com os músicos de costas.
Bono interage com a plateia que lotou o Morumbi. (Foto: Flávio Moraes / G1)Bono interage com a plateia que lotou o Morumbi. (Foto: Flávio Moraes / G1)
São raros os momentos em que Bono e companhia vão para trás da bateria e mostram suas faces para os expectadores desses locais. O baterista (Larry Mullen Jr.), aliás, só dá esse gostinho quando toca tambor no remix de “I’ll go crazy if I don’t go crazy tonight”.
Geralmente nos shows do Morumbi esse setor é fechado por estar atrás de onde ficam tradicionalmente os palcos. Mas no caso do U2 ele foi aberto graças ao design da “garra”, que ainda serve para colocar 20% a mais de pagantes na arena (Paul McCartney encheu o Morumbi com 64 mil pessoas no ano passado, para efeito de comparação).

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